Pode não parecer nada de especial a muita gente, que provavelmente têm profissões mais exigentes, mas decorar, em três semanas, um papel inteiro em alemão (e nunca na vida vi um papel tão cheio de palavras!), trabalhar em cenários que quase requerem uma ginasta para os subir e descer e "fingir" que se é uma criança de 7 anos - tudo isto cantando sem que se perceba que se está sem fôlego - não é coisa fácil! Logo eu, que não falo patavina de alemão e que, diga-se de passagem, não faço ginástica desde os tempos de escola. Aprendi muito, principalmente como dar a ilusão de movimento de criança hiper-activa sem comprometer a minha respiração e, consequentemente, o canto. Ufa! Escusado será de dizer que devo ter emagrecido umas gramas.
Este trabalho surgiu à ultima da hora quando ainda estava em Belfast. Glyndebourne perguntou-me se podia ser a understudy de Adriana Kucerova, no papel de Gretel, e eu disse logo que sim. Ok, fiquei sem férias, mas é um excelente papel numa produção de Laurent Pelly que, vim depois a saber, é também excelente. Para mim, a situação é ideal. Tenho feito tanto barroco e clássico que, cantar algo pós-romântico, pareceu-me, quase deliciosamente, estar a pôr a carroça à frente dos bois. Mas ser a understudy neste papel significa que tenho um pouco menos de pressão e posso, num ambiente de alto nível, experimentar um papel completamente novo em estilo. Perfetto! Ou melhor, Wunderbar!
Os ensaios terminaram a semana passada e agora espero, pacientemente, que a moça fique um pouco doente. Só um pouquinho. O suficiente para dar a oportunidade aqui à portuguesinha - o que é uma coisa horrível de se dizer, mas, sejamos honestos, é o que qualquer understudy secretamente deseja... mwahahaha (gargalhada maquiavélica)!
Ilustração de Bill Burgard
1 comentário:
Não, não nós somos bonzinhos. Não desejamos mal a ninguém! Mwahahahahahaha!!!! Estou aqui a torcer por uma corrente de ar bem apontada!
Enviar um comentário