sexta-feira, 24 de março de 2006

Amizades

Fui ver as cenas de ópera dos do primeiro ano, despedi-me emocionadamente do chefão e passei as 5horas e meia seguintes no pub.

No pub, não fiquei tão emocionada como pensava que ia ficar. Nem tirei fotografias. Ao fim de quase 6 anos, estava à espera de partilhar lágrimas de adeus e saudades, mas, na verdade, vai tudo ficar por Londres mesmo - um encontro está apenas a um toque de telemóvel.

Há dois e três anos atrás, quando terminei a licenciatura e o mestrado, é que muitos dos meus amigos se foram para os respectivos países. É um problema quando se tem colegas de nacionalidades diferentes... Muitos não vejo desde então. Outros aparecem muito de vez em quando. Nessa altura é que devia ter partilhado as tais lágrimas de adeus e saudades, mas acho que não me dei conta: uns iam embora, outros, incluindo eu, ficavam na mesmo vida de estudante. Para os que ficavam, nada parecia que ia mudar.

A internet é um bom meio para manter o contacto, mas até assim as relações vão-se dissipando no tempo. De "amigos" passa-se a "conhecidos". O mesmo aconteceu com os portugueses.

Não há dúvida que mesmo as amizades mais verdadeiras, com a distância do espaço e do tempo, se não são regadas, morrem. E ambas as partes são planta e regador, logo ambas têm culpa no cartório!

quinta-feira, 23 de março de 2006

Adeus amiguinhos!



Buáááááááááááááááááááááááááá!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

È finito!

Ontem foi a minha segunda (e última) récita do Falstaff. Não correu de todo como eu queria... Mas todos me dizem que foi muito bem... não percebo. O que interessa, é que o público gostou do espectáculo e pronto. Espero terminar aqui este tema do Falstaff!

Fomos todos festejar o final das récitas no Sosho, ao contrário do que tinha sido combinado - por incompetência dos stage managers, chegámos ao Context uma hora e meia atrasados em relação à reserva e, claro está, quando lá aparecemos, já tinham fechado. Por sorte, o Sosho estava aberto e acabámos por ter uma "noite" agradável (entre aspas porque foi só até à uma da manhã, à boa moda da city). A "noite" terminou num kebab gorduroso, antes de apanharmos um táxi para casa.

terça-feira, 21 de março de 2006

Últimos dias de estudante!

Já comecei as despedidas, com uma tentativa frustrada de me despedir de uma das pessoas mais importantes no meu "percurso estudantil" em Londres. Logo hoje, o gajo tinha de ir para a Nova Zelândia. E por 2 semanas! Até me vieram as lágrimas aos olhos...

Distribuí os convites pelos pigeonholes (como se diz isto em português?!) para o encontro no pub do costume, na zona já reservada para o efeito, para sexta a partir das 18horas.

domingo, 19 de março de 2006

Adrenalinas

É suposto, ao fim de tantos anos de estudo, que uma pessoa conheça bem a voz que tem. Pois parece que eu tenho a compreenção lenta…

São os outros que me dizem o que posso fazer porque penso sempre que não é para mim – é sempre demasiado leve ou demasiado pesado. Foi um problema para o chefe de departamento de ópera saber qual dos papéis eu deveria fazer, se Alice, se Nannetta. Na verdade, a minha voz está entre as duas… Mas, na verdade, a Nannetta não tem de ser ligeiríssima! Afinal, sempre é Verdi! Descobri que sou ligeira o suficiente para fazer este papél (desde que não o faça numa sala muito pequena, onde teria a tendência para “apertar” os agudos com medo de não ser musical…).

Para além de não saber o que está ao meu alcance, também me esqueço da importância (diria extrema, no meu caso) da adrenalina. Estava com tanta energia e com tanta vontade de cantar que me deu tanta confiança, que as coisas só poderiam correr bem.

É raro ter nervos quando faço ópera. Tenho-os mais em recitais. Numa ópera, todos partilham a responsabilidade de fazer um bom trabalho. Num recital, cai tudo sobre dois ombros… Devia cair sobre quatro, porque o pianista também é gente, mas, na realidade, é o cantor que “dá a cara”…

Enfim, isto tudo para dizer que a minha primeira récita correu melhor do que eu esperava. Agora o desafio é repetir o feito na quarta-feira!

sábado, 18 de março de 2006

Nervos?

Ontem tive uma boa audição onde cantei Una donna (Despina), Ho um certo rossore (Dorinda) e Padre, germani (Ilia). Acho que gostaram, mas o dia estava no início e ainda iriam ouvir bastantes Dorindas… Mas, como dizem os ingleses, “I sang my heart out”! Espero conseguir o papel…!

Hoje é a segunda récita do Falstaff (e a minha primeira noite). Ainda não estou nervosa. Parece que a primeira récita correu bem e tenho a certeza que a C. cantou bem a Nannetta. Mesmo que eu não ache que tenha uma voz de distinção, especialmente nos médios, não há dúvida de que é uma cantora segura, especialmente nos agudos (mais segura que eu nesse aspecto). Mesmo que a garganta interfira, o seu som sai sempre seguro e flutuante!

A minha professora deu-me um raspanete por não ter convidado agentes para a récita. Mas, sinceramente, não me cabe na cabeça convidá-los para me ouvirem num papél onde não me sinto 100% segura (ou mesmo 80%). Aliás, já estou sob pressão suficiente já que vão lá estar outros críticos, agentes e companhias que me ouviram noutros papeis mais apropriados e que estão curiosos para me ouvir neste… Oooops…

quinta-feira, 16 de março de 2006

Bem preparada...

Amanhã tenho uma audição para o Orlando, de Handel, e nem sei o que vou cantar. Mas aqui estou eu a escrever no blog à meia-noite.... Enfim...

terça-feira, 14 de março de 2006

Frio demais para estar fashion

Está um frio de rachar! As minhas mãos estão secas e gretadas e não há creme que me valha...
As temperaturas máximas para os próximos dias não excedem os 5 graus, mas as montras mostram vestidinhos de Verão às flores e às bolinhas, muito anos 50. Será que haverá alguém com coragem para os experimentar?...

Mulher "à antiga"

Aqui em Londres, são poucos os homens que oferecem o lugar a uma mulher... Lembro-me que em Lisboa ainda me davam o lugar quando andava de autocarro. Mesmo quando saía com amigos (tempos idos...), os rapazes certificavam-se de que as raparigas estavam sentadas e confortáveis. Aqui, os rapazes querem lá saber! As raparigas embebedam-se até não se aguentarem em pé e são deixadas sozinhas no final da noite, à espera do autocarro (note-se: com as suas mini-saias e sandálias, em pleno Inverno!).

Quando pergunto ao meu namorado o porquê desta diferença, ele "culpa" o facto das mulheres reevindicarem igualdade. Mas o que e que isso tem a ver?!? As mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens, e, na minha opinião, mais uns quantos previlégios! Era só o que faltava se de "Mulheres e crianças primeiro!" se passasse a um "salve-se quem poder" - sim porque, neste caso, bastaria um encontrão de um homem para que ficassemos estateladas no chão!

Enfim, sou uma mulher "à antiga" e, por isso, da opinião de que devemos ser protegidas, como seres mais-que-perfeitos e preciosos que somos. Protegidas contra o abuso, a descriminação, contra portas fechadas e falta de lugares nos transportes públicos! Que falta de chá...!

Gaie comare di Windsor

Aqui está uma foto da Nannetta, Alice e Meg. "Fra le femine quella è la più ria che fa la gatta morta." (Entre as mulheres, a mais culpada é a que faz de inocente - tradu. ranhosa da Joana.)

segunda-feira, 13 de março de 2006

Falstaff, o Cacciatore Nero

Este blog estava a precisar de umas fotos para colorir o ambiente! A ópera ainda não estreou, mas aqui fica uma preview do terceiro acto. Tirei estas fotos num ensaio corrido com a minha máquina digital nova (Finepix Z2, da Fuji) e não ficaram nada más!


Falstaff mascarado de Cacciatore Nero, entre o medo e a excitante perspectiva de um encontro com a "bella Alice"
Alice, Mistress Quickly, Meg e as fadas a "forçar" o Falstaff a arrepender-se dos seus pecados.

Quando me encher de coragem, ponho uma foto da Nannetta.

B.I. v liberty

Os ingleses sempre foram muito defensores das liberdades individuais de cada um. São reservados e não toleram que o Estado ou ninguém interfira na sua privacidade, a não ser que essas entidades tenham como objectivo a protecção dessa mesma privacidade. Daí toda a questão que se tem levantado em relação aos bilhetes de identidade que, até agora, nunca tiveram. A ideia de que o Estado tem acesso à impressão digital de cada pessoa ou, como querem fazer aqui, à informação do ADN de cada um, é coisa que lhes custa aceitar. E que um polícia tenha direito a pedir o BI na rua a qualquer pessoa, muito menos. Muito menos ainda que lhes digam por quem não se devem apaixonar!

domingo, 12 de março de 2006

Que grande cavacada!

Muita coisa eu tenho lido noutros blogs e em jornais online portugueses sobre a homossexualidade em Portugal. Fico espantada por ser um assunto tão problemático! Portugal é mesmo socialmente atrasado... Que vergonha! Se, hoje em dia, duas pessoas adultas têm medo de dar as mãos na rua com medo de agressão verbal ou mesmo física, algo está muito errado!

Lembro-me de, há uns quinze anos atrás, ter ouvido umas velhotas a gritar com dois gays numa carruagem do metro por estes estarem de mãos dadas e a falar um com o outro de uma forma amorosa. Pois elas desataram aos berros como umas peixeiras (sem ofensa às peixeiras). Eles não fazem mais nada: mesmo antes do metro parar na estação do Rossio, onde iam sair, dão um grande beijo lambusado e saltam abraçados para a plataforma, perante a indignação ruidosa das duas velhas.

Na altura com os meus 15 anitos, fiquei ligeiramente chocada por ver dois gays aos beijos, tendo sido a primeira vez que vi uma coisa dessas. Mas mais chocada fiquei eu com a reacção super-exagerada que elas tiveram. Nunca me teria passado pela cabeça berrar com eles por causa de uma coisa daquelas. Claro que não esperava que duas velhotas portuguesas, de há 15anos atrás, aceitassem as coisas serenamente, mas ao ponto de os humilhar publicamente e berrarem que nem umas loucas...?!

Pelo que leio, as coisas não mudaram muito por Portugal...

Por muitas questões sociais que Inglaterra tenha a resolver, não tenho visto que a intolerância contra a homossexualidade seja uma deles. Aliá, parece que até está algo imbutida na cultura social inglesa, nomeadamente em classes mais altas (não sei se tem alguma coisa a ver com uma tradição de colégios "separatistas" e com o facto de poderem fazer mais o que lhes apetece - o poder do dinheiro bem que ajuda). Falo com pessoas mais velhas (e digo nos seus oitenta anos) que me dizem que a homossexualidade não era comentada, mas aceite. As pessoas simplesmente achavam que não tinham nada a ver com isso e que cada qual devia levar a vida que quisesse, desde que não chocasse com as liberdades dos outros.

Conheço casais de homossexuais na casa dos setenta, que viveram a maior parte da sua vida juntos e que tiveram finalmente a oportunidade de se casar.

Por cá, o progresso social de aceitação e tolerância deu origem a um progresso político e legislativo. Por Portugal, país de brandos costumes (!), o retrocesso social dá origem a cavacadas!

sábado, 11 de março de 2006

Encantoado

Num canto, canto seu encanto.
Noutro canto, canto e canto.
Recanto, com meu canto bem no canto.
Mas o encanto, canta, outro canto.

No meu canto, canto o desencanto.
O que encanta, encantos, noutros cantos,
Que cantam canto pro meu canto,
O que me desencanta, pois não são meu encanto.

Volto pro meu canto, sem canto,
Atrás de um novo encanto.
Canto encantos aos quatro cantos,
Um encanto, dois encantos..., cinco encantos..., DEZencanto!

De Tioburuno, Brasília, 16/06/2001

Passividade

Sou bastante alheia ao que se passa à minha volta e não tenho grande consciência política - aliás, política nunca me interessou. Raramente leio jornais... Vejo noticiários na televisão mas, desde que estou em Inglaterra, estou completamente isolada do que se passa em por aí. Completamente não, mas quase... Sempre que tento ser uma pessoa mais interesssada em affaires políticos, esqueço-me passados uns dias. Tal e qual como as minhas tentativas frustradas de beber mais água, fazer exercício físico ou manter uma alimentação saudável...

terça-feira, 7 de março de 2006

O Tenor

Tenores são uma espécie de cantor à parte, como muitos sabem. Longe de mim generalizar... (essa agora...)... mas são teimosos e não fazem o que lhes mandam! Não tem a mínima nocão do que fica bem no palco, ou do que os outros estão a fazer para depois colaborar em proporção. Sim, porque opera é uma colaboração entre actores, e não apenas uma oportunidade para cantar agudos e fazer caretas dramáticas!!!

Obras

Esta é a vista para o lado direito da minha janela. Já há algumas semanas que o prédio está todo embrulhado em barras de ferro e tábuas de madeira, onde homens das obras caminham alegremente todas as manhãs. Mas devo dizer que mal noto a presença deles. Não falam alto do outro lado da janela, não cantam pimbalhadas, não ouvem pimbalhadas. São muito bem comportados.

Aos fins-de-semana, em vez de homens das obras, passeiam-se esquilitos e pássaros, que habitam na árvore em frente, e que devem ter-se espantado bastante com a transformação no seu habitat. A ver se consigo tirar uma fotografias aos bichinhos um dia destes.
Esta é a vista para o lado esquerdo da mesma janela. A rede azul está a rodear um elevador que os tipos improvisaram e que transporta os materiais que utilizam para trabalhar no telhado. Sendo uma zona de gangs, houve bastante preocupação em relação à segurança no prédio, mas até agora apenas fomos "assaltados" pelos vizinhos da frente, ou melhor, da árvore em frente.
Ainda estou à espera do telefonema da construtora em relação a quando me virão mudar as janelas para umas decentes que não deixam entrar o frio... Quase de certeza que vão acertar num dia de récita do Falstaff!

sexta-feira, 3 de março de 2006

A toda a pressão!

Finalmente, começa o fim-de-semana... Nem tive tempo nem disposição para escrever, tal tem sido o meu cansaço... O que hoje aguentou-me as pernas na caminhada do Metro a casa foi o desejo por um duchezinho, agora verdadeiramente quente e com toda a pressão, previlégio esse que nos tinha sido negado desde que mudámos para este apartamento, há um ano e meio... Agora sim, vivo com a pressão e temperaturas que mereço!